10 anos, roupinha linda, ônibus
na estrada, vento na cara, cheiro de mato, indo pra casa da vovó, lá tem sempre
muita gente, e uma calçada iluminada por um dos poucos postes da rua, longa e
bonita. Vovó conta suas vivências e os tios põem-se a rir, fazem comparações,
indagações, afirmações, - aqueles tempos eram outros.
Dormir na casa da vovó, lençóis
frios e aconchegantes, rede na varanda, e céu estrelado, parece até outro mundo
naquele lugar, gente sempre a conversar esperando o sono chegar para na manhã
seguinte comprar o pão mais doce que tiver no seu Manoel.
Café quentinho na mesa da vovó,
rodeada por primos próximos e distantes, todos a fazerem convites para as mais
divertidas brincadeiras. O quintal da vovó parecia sempre uma floresta
encantada.
No almoço e no jantar eram sempre
as mesmas histórias, muita gente por lá, a rir, a brincar a conversar, bate
papo na calçada e crianças a brincar na rua, isso era o mais sagrado de tudo,
ao longe se avistavam aquelas pessoas a gargalhar, de felicidade. De
felicidade.
Vovó morava sozinha, mas nunca
estava só, ela possuía sempre a companhia dos tios e tias, e também das suas
longas e lindas histórias, de seus móveis sempre arrumados, de sua decoração
peculiar, harmoniosa, que nos davam a paz. Que paz!
20 anos, roupinha apertada,
ônibus na estrada, vento na cara, cheiro de mato, indo pra casa da vovó, agora
lá tem pouca gente, e uma calçada escura sem ninguém, em uma rua movimentada,
mas, triste. Vovó já não está mais aqui, e os tios em suas casas preocupados
com o trabalho e o dia que está por vir.
A casa está fechada, e nela todas
aquelas lembranças...
E agora tudo já se foi, como num
passe de mágica, vovó foi morar com Deus, e levou com ela a paz daquela cidade,
daquela casa, daqueles tempos que eram outros. Restam lembranças, da infância
perfeita na casa da vovó, e saudades de tudo, de suas mãos frias, seu beijo
carinhoso, suas histórias de vida, do café, dos tios, de tudo e da luz que vovó
sempre deixava em mim!

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